quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O Índio na Canção do Tamoio e no Erro de Português

Análise Literária - Os poemas de Gonçalves Dias (1823-1864) e Oswald de Andrade (1890-1953) exemplificam os conceitos estudados na última semana referente aos primórdios da identidade da literatura brasileira. Cada qual com sua peculiaridade, que bem traduzem as suas inserções literárias: o romantismo e o modernismo, respectivamente.
Como vimos, o Romantismo e o movimento nacionalista fez da literatura um resgate da identidade brasileira, principalmente por meio da temática indígena. Observamos tal característica na Canção do Tamoio, cujo tom de heroísmo é similar aos atribuídos às personagens da literatura ocidental, no entanto, com uma forma própria (no caso, redondilha menor) e ritmo sugestivo à temática.
Já o Modernismo apresentou outro olhar em relação à literatura brasileira. Nesse sentido, a temática indianista toma novos rumos sob uma perspectiva mais crítica, realista e com formas independentes, como bem salienta Oswald de Andrade, na obra Erro de Português.
O primeiro com uma precisão métrica impressionante, com um ritmo envolvente, uma perfeita composição entre a objetividade estética e o subjetivismo do sujeito lírico. No poema de Gonçalves Dias, um leitor mais sensível é capaz de ouvir o som dos tambores que embalaram o recém-nascido guerreiro. O segundo apresenta uma breve composição irregular, mas com um envolvente jogo de palavras e sentidos que se completam na percepção do leitor. Em apenas sete versos e 24 palavras, o eu lírico, coloquialmente, além de indagar a colonização portuguesa no Brasil, trabalha a hipótese da reversão desse momento histórico. Em uma leitura menos contextualizada, observa-se certa graciosidade e ironia  no poema, porém com um pouco de conhecimento histórico, o leitor mergulha em um mar infinito de interpretações, ou seja, são versos que transcendem o espaço e o tempo.

Então eu me pergunto? Como isso é possível? Como em um primeiro momento estou no seio de Tamoio e em alguns momentos depois estou analisando o “erro dos portugueses”? Como sou capaz de me convencer com um heroísmo de “contos de fadas” e na sequência  me indignar com a falta de “dias ensolarados” na história do Brasil? Isso, só é possível, porque isso é LITERATURA!

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