Comentários - Cinderela é um conto
amplamente conhecido, ele traz, em suas inúmeras versões, olhares peculiares de
seus autores, mas também, características universais, atemporais, como o amor,
o casamento, os conflitos familiares (ciúmes entre irmãos) e a importância que
se dá à aparência: pois o que difere a bela princesa da “gata borralheira” é o
seu luxuoso traje.
As obras de Perrault e
dos irmãos Grimm (escrita mais de um século depois) apresentam distinções
interessantes. Em Perrault temos uma moça delicada (por isso o sapatinho de
cristal), bondosa, submissa, generosa, valores semelhantes à de uma cartilha de
bons comportamentos. A mágica vem da fada madrinha, os trajes são detalhados.
Há dois bailes e hora marcada para acabar a magia. Já na obra dos irmãos Grimm os
sapatinhos não são de cristal (seda e prata e ouro), há três bailes, a mágica
vem da natureza, de um galho de árvore que Cinderela ganhou de seu pai. Os
vestidos dos bailes são trazidos por um pássaro que remete à mãe de Cinderela. Não
há hora específica para acabar a magia. Além disso, a Cinderela não perdoa as
irmãs e elas são drasticamente castigadas com a cegueira, além de terem parte
dos seus pés cortados, o que revela outro tipo de conduta moral, em comparação
aos outros contos.
Em suma, temos uma
história de amor, rivalidade, em que são abordados valores e elementos mágicos.
No entanto, o crucial entre estes dois contos é que em Perrault as irmãs são
perdoadas e na versão dos Grimm elas são castigadas, creio ser essa a principal
implicação em relação aos leitores. No primeiro caso, uma conduta de bom
comportamento e sociabilidade e no segundo caso, uma conduta mais rígida, semelhante
a um velho ditado: “Quem planta o bem colhe o bem, e quem planta o mal, colhe o
mal”. Não existe um meio termo.
Tais diferenças e
possíveis efeitos sobre os leitores não são por acaso, pois além do caráter
universal e atemporal, os contos também remetem aos contextos históricos
vivenciados por seus autores, como cita a jornalista Lívia Perozim na Revista
Carta Capital, publicada no dia 17/08/2010:
[...]
no século XVII, com o francês Charles Perrault [...], na corte barroca de Luís
XIV nascia a noção de civilité e os
bons modos eram valorizados. Não à toa, a Cinderela de Perrault usava trajes
luxuosos e um sapato de cristal, tamanha sua delicadeza. Já na versão dos
irmãos Grimm, a história não tem traços tão nobres. Ao contrário, os autores
alemães, que vieram de um ambiente rural e viveram a ocupação napoleônica do
século XIX, emprestam uma certa – e talvez discutível – violência ao conto.
Com isso, podemos
concluir que os contos de fadas ganharam e ganham muitas versões no decorrer do
tempo, porém com propriedades comuns que permitem ao leitor identificar a sua
raiz norteadora, tanto quanto, características e preocupações resultantes de
sua época. Não é a toa que nos dias atuais, nos deparamos com versões cada vez
mais resumidas, talvez pelo caráter imediatista da nossa sociedade.
Fontes:
Textos da disciplina
(3ª Semana).
Referência Bibliográfica:
PEROZIM, Lívia. A história dos contos de fada.
Entrevista com Kática Canton. Revista Capital, 2010. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/educacao/carta-fundamental-arquivo/a-historia-dos-contos-de-fada.
Acesso em 03 de setembro de 2016.
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