quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Literatura Infantil: Cinderela

Comentários - Cinderela é um conto amplamente conhecido, ele traz, em suas inúmeras versões, olhares peculiares de seus autores, mas também, características universais, atemporais, como o amor, o casamento, os conflitos familiares (ciúmes entre irmãos) e a importância que se dá à aparência: pois o que difere a bela princesa da “gata borralheira” é o seu luxuoso traje.
As obras de Perrault e dos irmãos Grimm (escrita mais de um século depois) apresentam distinções interessantes. Em Perrault temos uma moça delicada (por isso o sapatinho de cristal), bondosa, submissa, generosa, valores semelhantes à de uma cartilha de bons comportamentos. A mágica vem da fada madrinha, os trajes são detalhados. Há dois bailes e hora marcada para acabar a magia. Já na obra dos irmãos Grimm os sapatinhos não são de cristal (seda e prata e ouro), há três bailes, a mágica vem da natureza, de um galho de árvore que Cinderela ganhou de seu pai. Os vestidos dos bailes são trazidos por um pássaro que remete à mãe de Cinderela. Não há hora específica para acabar a magia. Além disso, a Cinderela não perdoa as irmãs e elas são drasticamente castigadas com a cegueira, além de terem parte dos seus pés cortados, o que revela outro tipo de conduta moral, em comparação aos outros contos.
Em suma, temos uma história de amor, rivalidade, em que são abordados valores e elementos mágicos. No entanto, o crucial entre estes dois contos é que em Perrault as irmãs são perdoadas e na versão dos Grimm elas são castigadas, creio ser essa a principal implicação em relação aos leitores. No primeiro caso, uma conduta de bom comportamento e sociabilidade e no segundo caso, uma conduta mais rígida, semelhante a um velho ditado: “Quem planta o bem colhe o bem, e quem planta o mal, colhe o mal”. Não existe um meio termo.
Tais diferenças e possíveis efeitos sobre os leitores não são por acaso, pois além do caráter universal e atemporal, os contos também remetem aos contextos históricos vivenciados por seus autores, como cita a jornalista Lívia Perozim na Revista Carta Capital, publicada no dia 17/08/2010:

[...] no século XVII, com o francês Charles Perrault [...], na corte barroca de Luís XIV nascia a noção de civilité e os bons modos eram valorizados. Não à toa, a Cinderela de Perrault usava trajes luxuosos e um sapato de cristal, tamanha sua delicadeza. Já na versão dos irmãos Grimm, a história não tem traços tão nobres. Ao contrário, os autores alemães, que vieram de um ambiente rural e viveram a ocupação napoleônica do século XIX, emprestam uma certa – e talvez discutível – violência ao conto.

Com isso, podemos concluir que os contos de fadas ganharam e ganham muitas versões no decorrer do tempo, porém com propriedades comuns que permitem ao leitor identificar a sua raiz norteadora, tanto quanto, características e preocupações resultantes de sua época. Não é a toa que nos dias atuais, nos deparamos com versões cada vez mais resumidas, talvez pelo caráter imediatista da nossa sociedade.



Fontes:

Textos da disciplina (3ª Semana).

Referência Bibliográfica:


PEROZIM, Lívia. A história dos contos de fada. Entrevista com Kática Canton. Revista Capital, 2010. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/educacao/carta-fundamental-arquivo/a-historia-dos-contos-de-fada. Acesso em 03 de setembro de 2016.

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