Comentários - Na versão de Charles Perrault fica claro que a moral de seus contos era um dos
objetivos a serem transmitidos para o público infantil. Nesse sentido, Capuchinho
Vermelho é um alerta as ingênuas meninas contra a sedução amorosa. Diferente de
muitas versões, o referido conto não tem um final feliz, pois o “lobo malvado” distrai
a “linda menina” de chapéu vermelho, engana e devora a vovozinha doente, encena
e engole a “pobre criança”. Com isso, percebe-se a rigidez da mensagem
moralista, pois, normalmente, ao ler ou ouvir um conto de fadas, atualmente
almeja-se um final feliz. Mas, como já vimos os contos também caracterizam os
contextos de sua época, no caso os últimos anos do século XVII.
No início do século XIX surge a versão dos
irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm. Em comparação com Perrault não percebemos
grandes alterações até o momento que o lobo engole a Rotkäppchen. No entanto, nessa história surge o caçador que resgata
a vovó e a sua distraída netinha. O
malvado lobo é castigado com uma morte dolorosa. A mensagem moralista se faz
presente no cerne da história, que diferente de Perrault, tem um desfecho “mais
justo” ao penalizar o lobo mal e contemplar a Capuchinho Vermelho com uma nova
chance. A menina elimina a ameaça, por meio da morte do segundo lobo, dando a
entender que a lição foi aprendida.
Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque é uma
narrativa moderna bem diferente de Perrault e dos irmãos Grimmm, mas só tem
sentido por parodiar a versão clássica. O amarelo remete ao medo,
característica essa bem explícita na primeira parte da narrativa. Na segunda
parte da narrativa surge o medonho lobo, o lobo dos contos de fadas, que alude
ao imaginário. Depois, o lobo tornou-se real e o medo se foi. A menina vence o
medo, enfrenta o lobo e por um instante os papeis se invertem e quem pode ser
comido é o lobo bolo, mas ironicamente a personagem prefere outra opção. Ao
contrário das duas primeiras versões, o desenrolar da história não se dá pela
desobediência da menina, mas sim, por um desafio inerente a própria personagem,
o medo de aventurar-se. Sentimento esse, superado por ela mesma, sem a ajuda de
adultos.
Fita Verde No Cabelo, de Guimarães Rosa, também
remete o leitor ao clássico Chapeuzinho Vermelho, mas não por suas semelhanças,
mas pelas situações opostas. A personagem não é influenciada pelo lobo, que se
quer existe explicitamente; ela é dona das suas decisões, opta pelo caminho
mais longo. Ao depara-se com o resultado de suas escolhas, a culpa e o remorso a
despertam e a remetem a uma posição, em que
a ingenuidade de temer lobos mal não mais se encaixa. As atitudes da
menina “engolem” a pobre vovozinha.
Fonte:
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Prática.
São Paulo: Ática,1991.
ROCHA, Waldyr Imbroisi. As Várias Histórias de Chapeuzinho Vermelho: Repressão e Moral nos
Contos de Fadas. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da
Graduação Ano 3 - Edição 4 – Junho-Agosto de 2010. Universidade Federal de Juiz
de Fora Avenida, São Paulo.
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