(1) Olha a bolha d’água
(2) No galho!
(3) Olha o orvalho!
(4) Olha a bolha de vinho
(5) Na rolha!
(6) Olha a bolha!
(7) Olha a bolha na mão
(8) Que trabalha!
(9) Olha a bolha de sabão
(10) Na ponta da palha:
(11) Brilha, espelha
(12) e se espalha.
(13) Olha a bolha!
(14) Olha a bolha
(15) Que molha
(16) A mão do menino:
(17) A bolha da chuva da calha!
(Cecília Meireles)
I –
Aspectos estruturais e semânticos
Para Nelly Novaes Coelho, há
quatro aspectos que integram o processo poético: os elementos estruturais da
linguagem poética, os processos intensificadores, os processos imagísticos e a
natureza das classes de palavras (1976, p.61).
O poema em questão apresenta
seis estrofes livres e 17 versos heterométricos. Não há um esquema homogêneo
quanto à disposição das rimas, ora ela é intercalada, ora emparelhada, ou seja,
trata-se de rimas misturadas, apesar da reiteração de palavras com rimas
semelhantes como palha, espalha; galho, orvalho; calha, molha. Quanto à pontuação, observa-se o uso
abundante da exclamação (signos emotivos) e o ponto e os dois pontos (signos
lógicos).
De acordo com Coelho, “o
significado poético latente em um poema pode ser realçado ou intensificado de
vários modos”, (1976, p.87). Um exemplo de reiteração é o substantivo “bolha”
(aparece nove vezes), o verbo “Olha” (oito vezes). Obviamente, essa reiteração influencia na musicalidade
do poema. A expressão “Olha a bolha” (sete vezes) é um exemplo de anáfora. Também
vale destacar, que na primeira estrofe, destaca-se a aliteração dos fonemas /b/
/d/ (bolha d’água), que remete a sons de estouro.
Dentro dos processos
imagísticos temos uma metáfora em relação ao significado de bolha (bolha de
sabão e bolha de calo). No primeiro caso, a bolha remete a leveza de uma
brincadeira de criança; no segundo, a árdua consequência de um trabalho duro. Outro
o recurso é a sinestesia, o sujeito lírico enxerga, toca e degusta as diversas
bolhas presentes no decorrer do poema.
Por fim, destaco a força do
verbo “olhar” no referido poema, a opção pelo modo imperativo fez toda a
diferença, pois o eu lírico impõe esse olhar de tal forma que o leitor não
consegue desviar.
II –
O leitor
Primeiramente, vale
salientar que a escolha de um possível
leitor não significa que o referido poema não esteja acessível a outras faixas
etárias. Para esse trabalho, sugiro o poema de Cecília Meireles para faixa
etária entre 12 e 14 anos, por ser uma idade correspondente às séries finais do
Ensino Fundamental, que inclui o público
alvo do Curso de Letras: Língua Portuguesa e Literatura.
De acordo com Maria da
Glória Bordini, em seu artigo - Poesia
infantil e transitoriedade do leitor criança - há certos critérios para
atender essa transitoriedade. Para o caso em baila, Bordini sugere tanto
gêneros formais como os sonetos, como também poemas de formas livres e líricas
reflexivas (2009, p.31). Nesse sentido, as formas livres do poema Bolha
e a possível reflexão sobre a questão da efemeridade (bolhas de sabão na
infância x bolhas de calo na fase adulta), justificam essa escolha. Para esse
comparativo é necessário, segundo a autora, características textuais como
riqueza imagética, habilidades como percepção estética dos processos
linguísticos artísticos (200, p.32). Nesse sentido, o poema escolhido
corresponde às expectativas.
No entanto, vale destacar, que “o texto não é
pretexto para nada”, (1985, Lajolo). Isso significa que o professor tem que se
a ter a sua especificidade (análise poética) e
relacionar os aspectos estruturais, semânticos e lexicais de forma unitária
para não interferir no lirismo de sua concepção.
Referencias Bibliográficas
BORDINI,
Maria da Glória. Poesia infantil e transitoriedade do leitor criança. São Paulo: Revista Via Atlântica, 2008. p.
23-33.
COELHO,
Nelly Novaes. Literatura &
Linguagem: a obra literária e a expressão linguística. São Paulo: Quíron,
1976.
LAJOLO,
Marisa. O texto não é pretexto. In:
ZILBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas do
professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. p. 52-62.
MEIRELES,
Cecília. Ou Isto ou Aquilo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
Parabéns Ires pela a pesquisa.
ResponderExcluirmuito legal, parabéns.
ResponderExcluirQual o assunto do poema?
ResponderExcluirBolhas
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