quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Sobre a Morte (Literatura Lírica)

“Foi poeta – sonhou – e amou na vida”

Comentários - O poema “Lembrança de Morrer” de Álvares de Azevedo é bem definido quanto a sua forma. Nesse sentido, é composto por 12 quartetos decassílabos, a exceção é o quarto verso, um hexassílabo. As rimas perfeitas aparecem em todos os versos pares, por exemplo, vivente/demente; vento/passamento; consumia/embelecia e minhas/definhas. Vale destacar, que nas estrofes seis e sete, o primeiro e o terceiro verso apresentam rimas toantes: amigos/endoudecido; inunda/nunca.
No que se refere ao sentido do texto, já no primeiro verso o sujeito poético  apresenta a possibilidade da sua morte, que rege o tom melancólico de todo o poema. No verso nono até o 14, o eu lírico ressalta a forma como vai deixar a vida: “a fuga do tédio de uma alma errante consumida pelo fogo insensato”. Mas, ele não vai sozinho, pois carrega as saudades (versos 15 a 24) de seus pais e as belas ilusões de tempos que não voltam mais.
Tão intangível quanto o tempo que se foi, é a mulher para o sujeito lírico. Como mais um desejo, ela é caracterizada como um ser amado, cobiçado, mas também intocável e inacessível, pelo menos na vida real, pois em seus sonhos, o sujeito poético nutre a esperança do gozo desse amor (oitava estrofe).
Nas duas últimas estrofes, o poema traz uma invocação à natureza, nesses versos a figura de linguagem personificação predomina. O eu lírico pede, por exemplo, a proteção do seu corpo para as sombras do vale e para as noites da montanha e a abertura dos ramos dos arvoredos do bosque para que a luz da lua ilumine a sua lousa (túmulo). 
Nesse sentido, a morte para o sujeito lírico não alude a um desespero, mas a uma atmosfera de aconchego e consolo pós-morte. Sendo assim, é evidente a linguagem melancólica e a morbidez que rege o tom do poema, tanto que o  sujeito poético escolheu a inscrição para o seu próprio túmulo (título dessa análise).


“Morrer! morrer! Soluça-me implacável”

Comentários - O poema “Mocidade e Morte”, de Castro Alves é dividido em 14 estrofes, que são alternadamente compostas por oitavas e dísticos. Todos os versos são decassílabos. As rimas obedecem ao esquema ABCBDEFE (alternadas e mistas) GG (emparelhadas). Além disso, todas as rimas são perfeitas e graves e alternam-se em pobres e ricas. Nos versos 9 e 10 encontramos esquema rítmico heroico e sáfico, respectivamente.
 No decorrer do poema, há um diálogo entre o eu lírico que fala nas oitavas e uma voz que lhe retruca nos dísticos. O sujeito poético se refere à vida e a voz a morte.
Na primeira estrofe, vale destacar a metáfora como a figura de linguagem predominante, assim como a comparação nos versos 3 e 4 entre alma e branca vela (metonímia de barco). Nos versos seguintes, também observamos essa figura de linguagem: verso 10: sono/morte; verso 11: mundo/paraíso; verso 12: alma/cisne; verso 13: seio/lago virgem; verso 15 e 16: mulher/camélia; verso 17 e 18. alma/borboleta. Nesse sentido, as metáforas tem função de descrever o prazer e o apego pela vida, assim como o desprezo pela morte.
Outro elemento frequente é a repetição de algumas palavras, como: alma, vida (viver), morte (morrer), mulher, amante, seio, beijos, adeus. Também temos repetições sequenciais no mesmo verso: O futuro... o futuro (v. 25); Morrer! Morrer!(v. 60); e repetições sintáticas: Morrer – é ver extinto... ( v. 31); Morrer – é trocar astros... (v. 35). A reiteração nesses casos tem a função de dar ênfase a uma ideia ou a um sentimento.
O poema como um todo remete a uma antítese entre “desejo de vida” e “prenúncio de morte”, como fica bem evidente nos versos 47 e 48, além disso:
O jogo de antítese estabelecido entre a mocidade e a morte no poema parece compor uma segunda antítese entre as ideias de legado e morte. A mocidade, cheia de vigor, vislumbra um futuro de glórias e anseia a construção de um legado, enquanto que a morte está para lembrar que a mocidade chega ao fim, que os “beijos da mulher” serão fatalmente trocados pelos “da larva errante no sepulcro fundo” e que o futuro de qualquer um, malgrado legado, é ser esquecido (BERETTA, 2014, p.117).
O poema está todo perpassado por uma estrutura e uma semântica dual que envolve o sujeito poético em relação à vida e a morte, ele:

[...] não só conhece a vida, como contempla os seus prazeres e a eternidade – “o sempre noite”. Os prazeres são sentidos e lamentados diante da voz que, compondo uma espécie de refrão durante o poema [...] apontam para o fim inadiável e irremediável, para a vida de prazeres curta e passageira, (2014, p.116).
CONCLUSÃO

Após analisar esses dois poemas, percebemos que Lembrança de Morrer prima pelo sentimento de melancolia. Nele o sujeito lírico encara a morte em uma atmosfera sedutora, tanto, que todas as suas invocações à natureza são para um momento pós-morte, o que remete a certo consolo, aconchego. Já o poema de Castro Alves, a morte é contraposta ao seu desejo de viver, há um evidente drama em relação à hora da despedida.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BERETTA, Laysa L. S. O gênio romântico e a imortalidade: análise de “ Ahasverus e o Gênio” e “Mocidade e Morte” de Castro Alves. Revista Estação Literária, volume 12, páginas 107 a 122. Londrina: Universidade Estadual de Londrina (UEL), 2014.


MONFARDINI, Adriana. Roteiro da disciplina de Literatura brasileira Lírica. 5ª fase do Curso de Letras: Língua Portuguesa e Literaturas. Polo de Agudo. Universidade Federal de Santa Maria e Universidade Aberta do Brasil. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2016.

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