“Foi
poeta – sonhou – e amou na vida”
Comentários - O
poema “Lembrança de Morrer” de Álvares de Azevedo é bem definido quanto a sua
forma. Nesse sentido, é composto por 12 quartetos decassílabos, a exceção é o
quarto verso, um hexassílabo. As rimas perfeitas aparecem em todos os versos
pares, por exemplo, vivente/demente; vento/passamento; consumia/embelecia e
minhas/definhas. Vale destacar, que nas estrofes seis e sete, o primeiro e o
terceiro verso apresentam rimas toantes: amigos/endoudecido; inunda/nunca.
No
que se refere ao sentido do texto, já no primeiro verso o sujeito poético apresenta a possibilidade da sua morte, que
rege o tom melancólico de todo o poema. No verso nono até o 14, o eu lírico
ressalta a forma como vai deixar a vida: “a fuga do tédio de uma alma errante
consumida pelo fogo insensato”. Mas, ele não vai sozinho, pois carrega as
saudades (versos 15 a 24) de seus pais e as belas ilusões de tempos que não
voltam mais.
Tão
intangível quanto o tempo que se foi, é a mulher para o sujeito lírico. Como
mais um desejo, ela é caracterizada como um ser amado, cobiçado, mas também intocável
e inacessível, pelo menos na vida real, pois em seus sonhos, o sujeito poético
nutre a esperança do gozo desse amor (oitava estrofe).
Nas
duas últimas estrofes, o poema traz uma invocação à natureza, nesses versos a
figura de linguagem personificação predomina. O eu lírico pede, por exemplo, a
proteção do seu corpo para as sombras do vale e para as noites da montanha e a
abertura dos ramos dos arvoredos do bosque para que a luz da lua ilumine a sua
lousa (túmulo).
Nesse
sentido, a morte para o sujeito lírico não alude a um desespero, mas a uma
atmosfera de aconchego e consolo pós-morte. Sendo assim, é evidente a linguagem
melancólica e a morbidez que rege o tom do poema, tanto que o sujeito poético escolheu a inscrição para o
seu próprio túmulo (título dessa análise).
“Morrer!
morrer! Soluça-me implacável”
Comentários - O
poema “Mocidade e Morte”, de Castro Alves é dividido em 14 estrofes, que são
alternadamente compostas por oitavas e dísticos. Todos os versos são
decassílabos. As rimas obedecem ao esquema ABCBDEFE (alternadas e mistas) GG (emparelhadas).
Além disso, todas as rimas são perfeitas e graves e alternam-se em pobres e
ricas. Nos versos 9 e 10 encontramos esquema rítmico heroico e sáfico,
respectivamente.
No decorrer do poema, há um diálogo entre o eu
lírico que fala nas oitavas e uma voz que lhe retruca nos dísticos. O sujeito
poético se refere à vida e a voz a morte.
Na
primeira estrofe, vale destacar a metáfora como a figura de linguagem
predominante, assim como a comparação nos versos 3 e 4 entre alma e branca vela
(metonímia de barco). Nos versos seguintes, também observamos essa figura de
linguagem: verso 10: sono/morte; verso 11: mundo/paraíso; verso 12: alma/cisne;
verso 13: seio/lago virgem; verso 15 e 16: mulher/camélia; verso 17 e 18.
alma/borboleta. Nesse sentido, as metáforas tem função de descrever o prazer e
o apego pela vida, assim como o desprezo pela morte.
Outro
elemento frequente é a repetição de algumas palavras, como: alma, vida (viver),
morte (morrer), mulher, amante, seio, beijos, adeus. Também temos repetições
sequenciais no mesmo verso: O futuro... o futuro (v. 25); Morrer! Morrer!(v.
60); e repetições sintáticas: Morrer – é ver extinto... ( v. 31); Morrer – é
trocar astros... (v. 35). A reiteração nesses casos tem a função de dar ênfase a
uma ideia ou a um sentimento.
O
poema como um todo remete a uma antítese entre “desejo de vida” e “prenúncio de
morte”, como fica bem evidente nos versos 47 e 48, além disso:
O jogo de
antítese estabelecido entre a mocidade e a morte no poema parece compor uma
segunda antítese entre as ideias de legado e morte. A mocidade, cheia de vigor,
vislumbra um futuro de glórias e anseia a construção de um legado, enquanto que
a morte está para lembrar que a mocidade chega ao fim, que os “beijos da
mulher” serão fatalmente trocados pelos “da larva errante no sepulcro fundo” e
que o futuro de qualquer um, malgrado legado, é ser esquecido (BERETTA, 2014,
p.117).
O
poema está todo perpassado por uma estrutura e uma semântica dual que envolve o
sujeito poético em relação à vida e a morte, ele:
[...] não só
conhece a vida, como contempla os seus prazeres e a eternidade – “o sempre
noite”. Os prazeres são sentidos e lamentados diante da voz que, compondo uma
espécie de refrão durante o poema [...] apontam para o fim inadiável e
irremediável, para a vida de prazeres curta e passageira, (2014, p.116).
CONCLUSÃO
Após
analisar esses dois poemas, percebemos que Lembrança de Morrer prima pelo sentimento
de melancolia. Nele o sujeito lírico encara a morte em uma atmosfera sedutora,
tanto, que todas as suas invocações à natureza são para um momento pós-morte, o
que remete a certo consolo, aconchego. Já o poema de Castro Alves, a morte é
contraposta ao seu desejo de viver, há um evidente drama em relação à hora da despedida.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
BERETTA, Laysa
L. S. O gênio romântico e a imortalidade: análise de “ Ahasverus e o Gênio” e
“Mocidade e Morte” de Castro Alves. Revista Estação Literária, volume 12,
páginas 107 a 122. Londrina: Universidade Estadual de Londrina (UEL), 2014.
MONFARDINI,
Adriana. Roteiro da disciplina de
Literatura brasileira Lírica. 5ª fase do Curso de Letras: Língua Portuguesa
e Literaturas. Polo de Agudo. Universidade Federal de Santa Maria e
Universidade Aberta do Brasil. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2016.
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