quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O mundo urbano em Machado de Assis e Luiz Ruffato

Análise Literária - O mundo urbano em "Teoria do Medalhão" e "Nós poderíamos ter sido grandes amigos", tem características históricas e contextuais da sociedade próprias de sua época, assim como  estruturas narrativas e linguagens peculiares[1]. Tais diferenças não significam oposições, estão mais para uma transformação, uma consequência.
A figura paterna em Machado de Assis apresenta um mundo capitalista, individualista, patriarcal, estratégico, no sentido de não entrar em polêmicas ou discussões para estar acessível ao maior número de vantagens que levaria a um futuro promissor (Medalhão); tal visão de mundo tem como fundo uma crítica reflexiva que só será acessada por um leitor com perspectiva semelhante. Nesse sentido, tanto as personagens como os leitores caracterizam a representação do mundo urbano de Assis.
As personagens de Luiz Ruffato  também vivenciam um mundo capitalista e individualista, porém reféns de uma sociedade violenta - fruto de uma ambição descontrolada, que provavelmente originou-se dos “medalhões”, ironizados por Assis. Por isso, a transformação, a consequência. Não é por acaso que Ruffato retrata o caos urbano e o desconforto do homem, pois, se na época de Assis se tinha aquela visão de mundo, o que mais poderia se esperar do mundo atual?
Enfim, a Teoria do Medalhão mostra o reflexo de uma sociedade que se moldou às perspectivas das melhores vantagens (pessoais, sociais, políticas, econômicas...). Trata-se de um mundo urbano planejado, articulado, racional. Na obra de Ruffato, os valores também são questionáveis, mas sob um “piscar de olhos” revelador. Um pequeno recorte que tece uma grande cidade e revela a essência humana, o pensamento, um mundo intrínseco, mas tão amplo, ou maior que o seu exterior, ou seja, é uma viagem externa sob uma visão interna, pessoal.
Cada obra teve na linguagem o seu diferencial, porém, as duas têm em comum a ousadia, a sensibilidade de retratar algo que dialogue com o homem do seu tempo, de uma forma indireta e seletiva como a de Machado de Assis, ou como a forma internalizada e explícita de Luiz Ruffato.



[1] Como a tarefa esta limitada a uma página não cito as diferenças (forma, linguagem, contexto, etc.) entre as obras, mas gostaria de ressaltar uma delas: o ritmo. Com esse recurso o leitor pode facilmente sentir a melancolia do diálogo entre pai e filho e a aceleração que remete o fragmento de Ruffato ao coração da referida metrópole.

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