Análise Literária - O mundo urbano em "Teoria do Medalhão" e
"Nós poderíamos ter sido grandes amigos", tem características
históricas e contextuais da sociedade próprias de sua época, assim como estruturas narrativas e linguagens peculiares[1]. Tais diferenças não
significam oposições, estão mais para uma transformação, uma consequência.
A figura paterna em Machado
de Assis apresenta um mundo capitalista, individualista, patriarcal,
estratégico, no sentido de não entrar em polêmicas ou discussões para estar
acessível ao maior número de vantagens que levaria a um futuro promissor
(Medalhão); tal visão de mundo tem como fundo uma crítica reflexiva que só será
acessada por um leitor com perspectiva semelhante. Nesse sentido, tanto as
personagens como os leitores caracterizam a representação do mundo urbano de
Assis.
As personagens de Luiz Ruffato
também vivenciam um mundo capitalista e
individualista, porém reféns de uma sociedade violenta - fruto de uma ambição
descontrolada, que provavelmente originou-se dos “medalhões”, ironizados por
Assis. Por isso, a transformação, a consequência. Não é por acaso que Ruffato
retrata o caos urbano e o desconforto do homem, pois, se na época de Assis se
tinha aquela visão de mundo, o que mais poderia se esperar do mundo atual?
Enfim, a Teoria
do Medalhão mostra o reflexo de uma sociedade que se moldou às perspectivas
das melhores vantagens (pessoais, sociais, políticas, econômicas...). Trata-se
de um mundo urbano planejado, articulado, racional. Na obra de Ruffato, os
valores também são questionáveis, mas sob um “piscar de olhos” revelador. Um
pequeno recorte que tece uma grande cidade e revela a essência humana, o
pensamento, um mundo intrínseco, mas tão amplo, ou maior que o seu exterior, ou
seja, é uma viagem externa sob uma visão interna, pessoal.
Cada obra teve na linguagem o seu diferencial,
porém, as duas têm em comum a ousadia, a sensibilidade de retratar algo que
dialogue com o homem do seu tempo, de uma forma indireta e seletiva como a de
Machado de Assis, ou como a forma internalizada e explícita de Luiz Ruffato.
[1]
Como a tarefa esta limitada a uma página não cito as diferenças (forma,
linguagem, contexto, etc.) entre as obras, mas gostaria de ressaltar uma delas:
o ritmo. Com esse recurso o leitor pode facilmente sentir a melancolia do
diálogo entre pai e filho e a aceleração que remete o fragmento de Ruffato ao coração
da referida metrópole.
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