quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Os beijos que não tive ...

Comentário - O remorso é um recordar doloroso de algo imutável, é um lamento perpétuo de uma ferida que não se cura, para expressá-lo, é necessário autoconhecimento, pois se trata de um sentimento ímpar, inerente a cada indivíduo e indissociável a sua alma.
No poema Remorso, de Olavo Bilac, o sujeito lírico compartilha em um clássico soneto (dois quartetos e dois tercetos, decassílabo, com rimas intercaladas,  esquema rítmico heroico[1] e sáfico[2]) tais sentimentos, que levam o leitor a reviver a dor e o arrependimento do seu emissor.
Neste texto, tão rico quanto às rimas é a cuidadosa escolha lexical, o uso de encadeamentos sintáticos para preservar a métrica dos versos e de processos imagísticos como a oposição entre as metáforas outono e primavera (presente e passado).
Tais momentos do passado e do presente tecem o mais profundo sentimento de arrependimento pelos amores não vividos e pelos versos não falados, de um homem sem gozo e de um artista abortado. 
Junto com o arrependimento, surge a tentativa de justificativas vazias. No entanto, bem sabe o sujeito poético que renúncias por conveniências ou por valores não diminuem a dor dos sacrifícios, pois o remorso é um fim, cujos meios não o amenizam.
Assim sendo, só resta ao sujeito lírico mergulhar em versos tristes, em uma dor que lhe desespera (v.1), lamentar os beijos que não teve (v. 12) e desejar “Mais viver, mais penar e amar cantando!”, (v. 8).




[1] Nos versos 1, 2, 4, 8, 9, 10, 11, 12, 14.
[2] Nos versos 3, 5, 6, 7, 13.

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