Comentário - O remorso é um recordar doloroso de algo imutável, é um lamento perpétuo
de uma ferida que não se cura, para expressá-lo, é necessário autoconhecimento,
pois se trata de um sentimento ímpar, inerente a cada indivíduo e indissociável
a sua alma.
No poema Remorso, de Olavo Bilac, o sujeito lírico compartilha em um
clássico soneto (dois quartetos e dois tercetos, decassílabo, com rimas
intercaladas, esquema rítmico heroico[1] e
sáfico[2]) tais
sentimentos, que levam o leitor a reviver a
dor e o arrependimento do seu emissor.
Neste texto, tão rico quanto às rimas é a cuidadosa escolha lexical, o
uso de encadeamentos sintáticos para preservar a métrica dos versos e de
processos imagísticos como a oposição entre as metáforas outono e primavera
(presente e passado).
Tais momentos do passado e do presente tecem o mais profundo sentimento
de arrependimento pelos amores não vividos e pelos versos não falados, de um
homem sem gozo e de um artista abortado.
Junto com o arrependimento, surge a tentativa de justificativas vazias.
No entanto, bem sabe o sujeito poético que renúncias por conveniências ou por
valores não diminuem a dor dos sacrifícios, pois o remorso é um fim, cujos
meios não o amenizam.
Assim sendo, só resta ao sujeito lírico mergulhar em versos tristes, em
uma dor que lhe desespera (v.1), lamentar os beijos que não teve (v. 12) e
desejar “Mais viver, mais penar e amar cantando!”, (v. 8).
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