terça-feira, 11 de julho de 2017

Sequência: elementos básicos da narrativa

O conto Sequência de Guimarães Rosa tem como temática principal o amor. No entanto, o leitor só vai concluir tal enfoque no final da narrativa. O enredo é curto e resume-se na fuga de uma vaquinha para a sua antiga fazenda, cujo resgate desemboca em um encontro inusitado e predestinado, o que invoca um caráter místico da narrativa.
O espaço se refere a um ambiente rural e o tempo tem como base a trajetória entre a fuga, o resgate da vaca e o clímax amoroso[1]. Quanto ao espaço, não temos uma localização exata, provavelmente é “o sertão localizado entre Goiás e Minas Gerais”, (SANTOS, 2015, p.4). O narrador, em terceira pessoa (não participa diretamente da história, mas dela tudo sabe), dá algumas pistas, mesmo que fixionais, dos lugares explorados no conto, alguns identificados como as fazendas Pedra e Pãodolhão, a estrada das Tabocas, o Arcanjo; e outros espaços genéricos que denotam a paisagem do conto como os riachos, os pastos, o cerrado, o rio, os morros, os campos, as colinas, etc. Sobre o tempo, também há algumas referências perceptíveis nas escolhas verbais (viajava, solevava, evitava...), nos advérbios (anoiteceu, a tardinha), substantivos e adjetivos ( O dia era grande, azul e branco, o sol inteiro, crepúsculo, treva). Com base nessas características, observa-se certa harmonia entre o espaço e tempo.
As personagens que ganham destaque no conto são a vaquinha e o peão (senhor-moço). Nesse contexto, o conto humaniza o animal e o denota uma áurea transcendente digno do papel principal, por ser o elo da história de amor. Assim sendo, provoca uma reflexão que explora sentimentos universais e peculiaridades regionalistas ao mesmo tempo. Também, é notória a opção por uma linguagem oral[2] e uma seleção lexical própria do autor.
Por fim, vale destacar que o conto “é um desafio à narração convencional porque os seus processos mais constantes pertencem às esferas do poético e do mítico”, (BOSI, 1994, p. 433). Nesse sentido, o escritor superou os perigos e elaborou a matéria regional com um senso transfigurador, que fez dos seus livros maduros experiências de vanguarda dentro de um temário tradicional. (CANDIDO, 1999, p. 94).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32ª ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

CANDIDO, Antônio. Iniciação à Literatura Brasileira: Resumo para principiantes. 3ª ed. São Paulo: Humanitas/ FFLCH/USP, 1999.

ROSA, Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

SANTOS, Pedro Brum. Roteiro da Atividade 5. Disciplina: Literatura Brasileira Narrativa. Santa Maria: UFSM/UAB, 2017. Disponível em: https://ead08.proj.ufsm.br/moodle2_UAB/pluginfile.php/206984/mod_resource/content/1/Gabarito_unidade_V.pdf. Acesso em 13 de junho de 2017.



[1] Rosa também faz uso alguns recuos temporais.
[2] Evidenciado por meio de inversões na frase, pontilhados, interrogações, aspas e travessões.

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