terça-feira, 11 de julho de 2017

Cinco Minutos, José de Alencar

Neste romance, o leitor é envolvido em pequenas doses de mistério, persistência, pureza e esperança. Em suma, trata-se de uma história de amor que é capaz de promover milagres.

Em Cinco Minutos de José de Alencar, o narrador é a personagem principal. Ele é a cerne da história, pois relata/narra a sua aventura amorosa a sua prima e indiretamente ao leitor, como logo percebemos no início da narrativa:
É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima...
Há mais de dois anos, seriam seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí. (ALENCAR, 2009, p.7).

Trata-se de um narrador homodiegético e de um discurso direto em primeira pessoa, essa posição é perceptível do início ao fim do romance:
Podia dar-lhe outra resposta mais breve e dizer-lhe simplesmente que tudo isto sucedeu porque me atrasei cinco minutos. (2009, p.53).

Percebe-se que o narrador tem uma visão com, focalização interna, ou seja, uma visão parcial, a partir da sua perspectiva. Tal característica pode ser evidenciada em todo o romance, como por exemplo, no momento que o narrador/personagem acredita que sua amada (Carlota) esta o deixando.
 “A nossa casa em Nápoles dava sobre o mar; o sol, transbordando, escondia-se nas ondas; um raio pálido e descorado veio enfiar-se pela nossa janela e brincar sobre o rosto de Carlota, sentada, ou antes, deitada em uma conversadeira... Sentindo as minhas lágrimas molharem as suas mãos, que eu beijava, ela voltou-se e fixou-me com seus grandes olhos lânguidos.
Depois, fazendo um esforço, reclinou-se para mim e apoiou as mãos sobre o meu ombro”. (2009, p.50).

Vale destacar, que o romance se baseia em um fato que já aconteceu e apresenta recursos narrativos peculiares ao seu narrador, como as suas várias interrupções no desenrolar da história. O protagonista infere no discurso sua opinião, considerações, indagações e conclusões, inclusive, por exemplo, suas teorias sobre as mulheres:
A mulher é uma ílor que se estuda, como a flor do campo, pelas suas cores, pelas suas folhas e sobretudo pelo seu perfume.
Dada a cor predileta de uma mulher desconhecida, o seu modo de trajar e o seu perfume favorito, vou descobrir com a mesma exatidão de um problema algébrico se ela é bonita ou feia (2009, p.9).

Essa inferência é feita naturalmente no romance, como se ele quisesse exprimir o contexto psicológico daquele momento, pois a narrativa incorpora suas reflexões e percepções.
Apesar de o romance ser direcionado a uma terceira pessoa (a prima), o leitor não deixa de se envolver com a história. Esse diálogo se dá principalmente, pelos já mencionados comentários, reflexões e considerações do narrador. Outro recurso para envolver o interlocutor é o mistério/suspense que permeia o romance, assim como os desencontros que geram uma verdadeira aventura.
Além disso, o próprio canal, ou seja, a carta é compartilhada com o leitor. Essa opção do autor é interessante, pois se trata de um canal pessoal e inviolável (uma carta), em um contexto íntimo e próximo (uma comunicação entre primos) que serve de pano de fundo para o seu romance (aberto, público). 
A questão social das personagens também é de fácil percepção. Apesar de não ser citado diretamente, percebe-se que tanto o narrador/personagem como a sua amada são pessoas de uma classe social alta. Algumas pistas são deixadas para o leitor chegar a essa conclusão, como por exemplo, os lugares que eles frequentam (bailes, teatro), as viagens, o vestuário (tecidos nobres), o perfume. Também é notório, que o dinheiro (ou a falta dele) não foi motivo para impedir que o narrador/personagem fosse atrás de sua amada, arcando com todas as despesas ordinárias e extraordinárias, como a compra de um cavalo, a viagem de canoa, a ida para a Europa, etc. Tais condições colaboram para o sucesso da concretização desse amor.
Antes de finalizar, também vale destacar outra peculiaridade do romance: a fidelidade aos aspectos de sua época. A narrativa se dá no ano de 1857, costumes e características desse tempo estão evidentes no romance, como por exemplo, o uso de cartas para se comunicarem, os lenços bordados com as iniciais dos nomes, a predominância de ambientes tranquilos, amigáveis e a disseminação de valores como o respeito, a vida, o amor e a própria ingenuidade. Valores esses, cada vez mais raros na época atual.
Por fim, bastou cinco minutos para desencadear um amor infinito, desses que fizeram muitas donzelas suspirarem e que fazem muitos leitores saborear uma história de amor verdadeiro e invencível. O destino vence os desencontros, à distância e proporciona curas para corpo e para alma.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALENCAR, José de. Cinco Minutos e Viuvinha. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.

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