Neste romance, o leitor é envolvido em pequenas doses de mistério,
persistência, pureza e esperança. Em suma, trata-se de uma história de amor que
é capaz de promover milagres.
Em Cinco Minutos
de José de Alencar, o narrador é a personagem principal. Ele é a cerne da
história, pois relata/narra a sua aventura amorosa a sua prima e indiretamente
ao leitor, como logo percebemos no início da narrativa:
É uma história curiosa a que
lhe vou contar, minha prima...
Há mais de dois anos, seriam
seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí.
(ALENCAR, 2009, p.7).
Trata-se de um narrador homodiegético e de um discurso
direto em primeira pessoa, essa posição é perceptível do início ao fim do
romance:
Podia dar-lhe outra
resposta mais breve e dizer-lhe simplesmente que tudo isto sucedeu
porque me atrasei cinco minutos. (2009, p.53).
Percebe-se que o narrador tem uma visão com, focalização interna, ou seja, uma visão parcial, a
partir da sua perspectiva. Tal característica pode ser evidenciada em todo o
romance, como por exemplo, no momento que o narrador/personagem acredita que
sua amada (Carlota) esta o deixando.
“A nossa casa em Nápoles dava sobre o mar; o
sol, transbordando, escondia-se nas ondas; um raio pálido e descorado veio
enfiar-se pela nossa janela e brincar sobre o rosto de Carlota, sentada, ou
antes, deitada em uma conversadeira... Sentindo as minhas lágrimas molharem as
suas mãos, que eu beijava, ela voltou-se e fixou-me com seus grandes olhos
lânguidos.
Depois, fazendo um esforço,
reclinou-se para mim e apoiou as mãos sobre o meu ombro”. (2009, p.50).
Vale destacar, que o romance se
baseia em um fato que já aconteceu e apresenta recursos narrativos peculiares
ao seu narrador, como as suas várias interrupções no desenrolar da história. O protagonista infere
no discurso sua opinião, considerações, indagações e conclusões, inclusive, por
exemplo, suas teorias sobre as mulheres:
A mulher é uma ílor que se
estuda, como a flor do campo, pelas suas cores, pelas suas folhas e sobretudo
pelo seu perfume.
Dada a cor predileta de uma
mulher desconhecida, o seu modo de trajar e o seu perfume favorito, vou
descobrir com a mesma exatidão de um problema algébrico se ela é bonita ou feia
(2009, p.9).
Essa inferência é feita naturalmente no romance, como se
ele quisesse exprimir o contexto psicológico daquele momento, pois a narrativa
incorpora suas reflexões e percepções.
Apesar de o romance ser
direcionado a uma terceira pessoa (a prima), o leitor não deixa de se envolver
com a história. Esse diálogo se dá principalmente, pelos já mencionados comentários,
reflexões e considerações do narrador. Outro recurso para envolver o
interlocutor é o mistério/suspense que permeia o romance, assim como os
desencontros que geram uma verdadeira aventura.
Além disso, o próprio canal,
ou seja, a carta é compartilhada com o leitor. Essa opção do autor é
interessante, pois se trata de um canal pessoal e inviolável (uma carta), em um
contexto íntimo e próximo (uma comunicação entre primos) que serve de pano de
fundo para o seu romance (aberto, público).
A questão social das personagens também é de fácil
percepção. Apesar de não ser citado
diretamente, percebe-se que tanto o narrador/personagem como a sua amada são
pessoas de uma classe social alta. Algumas pistas são deixadas para o leitor
chegar a essa conclusão, como por exemplo, os lugares que eles frequentam
(bailes, teatro), as viagens, o vestuário (tecidos nobres), o perfume. Também é
notório, que o dinheiro (ou a falta dele) não foi motivo para impedir que o
narrador/personagem fosse atrás de sua amada, arcando com todas as despesas
ordinárias e extraordinárias, como a compra de um cavalo, a viagem de canoa, a
ida para a Europa, etc. Tais condições colaboram para o sucesso da concretização
desse amor.
Antes de finalizar, também vale destacar outra
peculiaridade do romance: a fidelidade aos aspectos de sua época. A narrativa
se dá no ano de 1857, costumes e características desse
tempo estão evidentes no romance, como por exemplo, o uso de cartas para se
comunicarem, os lenços bordados com as iniciais dos nomes, a predominância de ambientes
tranquilos, amigáveis e a disseminação de valores como o respeito, a vida, o
amor e a própria ingenuidade. Valores esses, cada vez mais raros na época
atual.
Por fim, bastou cinco minutos para desencadear um amor
infinito, desses que fizeram muitas donzelas suspirarem e que fazem muitos
leitores saborear uma história de amor verdadeiro e invencível. O destino vence
os desencontros, à distância e proporciona curas para corpo e para alma.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
ALENCAR,
José de. Cinco Minutos e Viuvinha. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.
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