A Situação da Aprendizagem
Na classe A, os alunos
de aprendizagem lenta pareciam desanimados e infelizes. Na classe B, todos os
alunos estavam atentos e interessados. O que produziu a diferença? A classe A,
a professora chamou uma das alunas mais velhas para definir uma palavra. A
aluna deu a ideia correta da palavra, mas não a apresentou numa sentença
completa. Tudo o que a professora disse foi: ERRADO! A aluna escorregou em sua
cadeira, tendo falhado perante a turma.
Na outra classe, a
professora pediu a definição de museu. Um aluno disse: é um lugar onde ficam os
peixes. Ao invés de dizer a professora perguntou: De onde você tirou essa
ideia? O aluno explicou: Eu fui a um museu e lá vi o esqueleto de uma baleia. É
verdade, disse a professora. Existem esqueletos de peixes nos museus, mas o
lugar onde se colocam os peixes vivos é ... Alguém disse: Um aquário! Esta
professora, ao contrário da outra, tinha curiosidade em saber como os alunos
adquirem ideias, como aprendem. Ela construiu algo sobre o que já existia em
suas mentes. Estava preocupada com o processo de aprendizagem – o efeito da experiência
de classe sobre o desenvolvimento do aluno – e não simplesmente com os
resultados do processo.
(Adaptado
do livro de Lindgren, Henry. Psicologia na sala de aula. Rio de Janeiro, Ao
Livro Técnico, 1991, v.1, p.8).
Ainda não tenho a visão de professora sobre o referido
enunciado, mas como aluna... percebo, infelizmente, que a maioria dos
educadores é como a professora citada na classe A, ou seja, um dos fatores que
acredito ser responsável pelo fracasso de grande parte da educação brasileira.
No entanto, a pergunta mais pertinente é o que faremos para colaborar para a
conquista de uma nova educação, a qual consideramos a ideal. Para tanto,
recortei alguns trechos de conceitos apresentados em nosso material do estudo
que reportam, de certa forma, aos exemplos do texto de Henry Lindren.
Uma das coisas que faltaram na professora da classe A, é a
sua percepção de afetividade, a sua entrega e envolvimento com o seu objetivo
de ensinar e aprender:
Heller (1982), em seu livro Teoria de
los sentimentos, afirma que a afetividade é estar implicado em algo, estarmos
empolgados, envolvidos por inteiro. Daí a necessidade de resgatarmos o espaço
dos prazeres e dos sabores nos saberes, o que faz parte de um novo imaginário
social, no processo de subjetivação dos professores. (UFSM, p.9).
Já a professora da classe B, soube explorar o conhecimento
do seu aluno, o qual foi compartilhado e somado com o restante da turma, pois:
Acreditamos que no cotidiano da sala
de aula os professores devem levar em conta a heterogeneidade das diferentes
culturas, motivações, valores, sentimentos, que permeiam e se manifestam
através da linguagem, da memória dos alunos quanto dos pais, dos gestores e da própria
sociedade. Isso porque o sujeito deve constituir-se de maneira autônoma, consciente
de si; um sujeito qualificado, competente, para atuar num mundo das inúmeras
representações. (idem, p.10).
Com esse compartilhamento de informações e autonomia é
possível mergulhar em um prazer inesgotável: a aprendizagem; como Maria
Cristina Machado Kupfer ressalta ao falar dos benefícios da educação
terapêutica, estudos que levaram em consideração as pesquisas de Freud: Segundo
Kupfer:
A criança transfere a sua energia
libidinal para a atividade escolar. Ler, escrever e contar são despertados pelo
desejo de conhecer e compreender, como forma de expressão simbólica dos
sentimentos relacionais inicialmente com os pais e depois com a professora. (idem,
p.24).
Nem sempre observamos em nossos alunos esse despertar
prazeroso pelos estudos, mas o que é muitas vezes notável é o constrangimento
por não assimilarem o conteúdo proposto ou por enquadramentos sufocantes do
“certo e errado”, como o vivenciado pelo o aluno da classe A. Nem sempre o
professor está preparado para perceber a totalidade da educação, como nos
alerta Jean Piaget ao dizer que na realidade...
... a educação constitui um todo
indissociável e não se pode formar personalidades autônomas no domínio moral,
se o indivíduo é submetido a um constrangimento intelectual que tenha de se
limitar a aprender por imposição sem descobrir por si mesmo a verdade... (idem,
p.38).
Ainda, segundo Piaget:
A aprendizagem verdadeira ... Só se
realiza realmente quando o aluno elabora seu conhecimento. (47)
Ignorar o conhecimento do outro é se fechar em sua própria
ignorância e romper o processo de aprendizagem que acontece durante a vida
inteira. Toda a pessoa é capaz de aprender, da mesma forma que é capaz de
ensinar, e essa troca de conhecimento estimula a capacidade de
auto-aprendizagem, inerente a pessoa, seja ela professor ou aluno. Nesse
âmbito, como ressalta Rogers, a educação tem papel primordial, pois:
A educação tem como finalidade
primeira a criação de condições que facilitem a aprendizagem do aluno e como
objetivo básico liberar a sua capacidade de auto-aprendizagem, de forma que
seja possível seu desenvolvimento tanto intelectual quanto emocional. (idem,
p.59).
Ainda, de acordo com a abordagem humanista, vale destacar,
que compete ao professor:
Ajudar o aluno a encontrar o que tem
em si mesmo, sem tentar pré-formá-lo de antemão. Ajudar cada aluno a descobrir
a sua própria identidade profunda. (idem, p.65).
Pois os alunos, também são sujeitos sociais, cuja
característica é criar e recriar culturas, ou seja, conhecimento, como bem
define Vygotsky:
... a criança é transformada pelos
valores culturais do seu ambiente, ela transforma esse ambiente... portanto, o
conhecimento é fruto das interações sociais que se estabelecem pela mediação dos
signos culturais construídos na coletividade. (idem, p. 68).
A professora da classe B explorou esses pré-conceitos em sua
prática pedagógica, e criou uma nova forma para abordar velhos temas, pois como
define Gardner:
Educar é criar cenários, cenas e
situações em que, entre elas e eles, pessoas, comunidades aprendentes de
pessoas, símbolos sociais e significados da vida e do destino possam ser
criados, recriados, negociados e transformados. Aprender é participar de
vivências culturais em que, ao participar de tais eventos fundadores, cada um
de nós se reinventa as si mesmo. (idem, p.76-77).
Por fim, ensinar é estar plenamente aberto a aprender e a
reaprender, a rever conceitos e transformar definições em um mundo cujas
mudanças estão cada vez mais rápidas e em expansão. Nesse
sentido:
Passar os conhecimentos levando em
conta as necessidades intelectuais, mas também as afetivas sociais e
transcendentes são essenciais para o novo tempo em que estamos vivendo, em que
tudo se relaciona com tudo e a informação é instantânea. (idem, p.81).
Referência Bibliográfica:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Centro de Artes e Letras. Curso de
Graduação em Letras
Português e Literatura à Distância. Psicologia da Educação A.
Santa Maria, 2015.
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