sábado, 16 de janeiro de 2016

O que você faria?

A Situação da Aprendizagem

Na classe A, os alunos de aprendizagem lenta pareciam desanimados e infelizes. Na classe B, todos os alunos estavam atentos e interessados. O que produziu a diferença? A classe A, a professora chamou uma das alunas mais velhas para definir uma palavra. A aluna deu a ideia correta da palavra, mas não a apresentou numa sentença completa. Tudo o que a professora disse foi: ERRADO! A aluna escorregou em sua cadeira, tendo falhado perante a turma.
Na outra classe, a professora pediu a definição de museu. Um aluno disse: é um lugar onde ficam os peixes. Ao invés de dizer a professora perguntou: De onde você tirou essa ideia? O aluno explicou: Eu fui a um museu e lá vi o esqueleto de uma baleia. É verdade, disse a professora. Existem esqueletos de peixes nos museus, mas o lugar onde se colocam os peixes vivos é ... Alguém disse: Um aquário! Esta professora, ao contrário da outra, tinha curiosidade em saber como os alunos adquirem ideias, como aprendem. Ela construiu algo sobre o que já existia em suas mentes. Estava preocupada com o processo de aprendizagem – o efeito da experiência de classe sobre o desenvolvimento do aluno – e não simplesmente com os resultados do processo.

(Adaptado do livro de Lindgren, Henry. Psicologia na sala de aula. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1991, v.1, p.8).

Ainda não tenho a visão de professora sobre o referido enunciado, mas como aluna... percebo, infelizmente, que a maioria dos educadores é como a professora citada na classe A, ou seja, um dos fatores que acredito ser responsável pelo fracasso de grande parte da educação brasileira. No entanto, a pergunta mais pertinente é o que faremos para colaborar para a conquista de uma nova educação, a qual consideramos a ideal. Para tanto, recortei alguns trechos de conceitos apresentados em nosso material do estudo que reportam, de certa forma, aos exemplos do texto de Henry Lindren.
Uma das coisas que faltaram na professora da classe A, é a sua percepção de afetividade, a sua entrega e envolvimento com o seu objetivo de ensinar e aprender:
Heller (1982), em seu livro Teoria de los sentimentos, afirma que a afetividade é estar implicado em algo, estarmos empolgados, envolvidos por inteiro. Daí a necessidade de resgatarmos o espaço dos prazeres e dos sabores nos saberes, o que faz parte de um novo imaginário social, no processo de subjetivação dos professores. (UFSM, p.9).

Já a professora da classe B, soube explorar o conhecimento do seu aluno, o qual foi compartilhado e somado com o restante da turma, pois:
Acreditamos que no cotidiano da sala de aula os professores devem levar em conta a heterogeneidade das diferentes culturas, motivações, valores, sentimentos, que permeiam e se manifestam através da linguagem, da memória dos alunos quanto dos pais, dos gestores e da própria sociedade. Isso porque o sujeito deve constituir-se de maneira autônoma, consciente de si; um sujeito qualificado, competente, para atuar num mundo das inúmeras representações. (idem, p.10).

Com esse compartilhamento de informações e autonomia é possível mergulhar em um prazer inesgotável: a aprendizagem; como Maria Cristina Machado Kupfer ressalta ao falar dos benefícios da educação terapêutica, estudos que levaram em consideração as pesquisas de Freud: Segundo Kupfer:
A criança transfere a sua energia libidinal para a atividade escolar. Ler, escrever e contar são despertados pelo desejo de conhecer e compreender, como forma de expressão simbólica dos sentimentos relacionais inicialmente com os pais e depois com a professora. (idem, p.24).

Nem sempre observamos em nossos alunos esse despertar prazeroso pelos estudos, mas o que é muitas vezes notável é o constrangimento por não assimilarem o conteúdo proposto ou por enquadramentos sufocantes do “certo e errado”, como o vivenciado pelo o aluno da classe A. Nem sempre o professor está preparado para perceber a totalidade da educação, como nos alerta Jean Piaget ao dizer que na realidade...
... a educação constitui um todo indissociável e não se pode formar personalidades autônomas no domínio moral, se o indivíduo é submetido a um constrangimento intelectual que tenha de se limitar a aprender por imposição sem descobrir por si mesmo a verdade... (idem, p.38).

Ainda, segundo Piaget:
A aprendizagem verdadeira ... Só se realiza realmente quando o aluno elabora seu conhecimento. (47)

Ignorar o conhecimento do outro é se fechar em sua própria ignorância e romper o processo de aprendizagem que acontece durante a vida inteira. Toda a pessoa é capaz de aprender, da mesma forma que é capaz de ensinar, e essa troca de conhecimento estimula a capacidade de auto-aprendizagem, inerente a pessoa, seja ela professor ou aluno. Nesse âmbito, como ressalta Rogers, a educação tem papel primordial, pois:
A educação tem como finalidade primeira a criação de condições que facilitem a aprendizagem do aluno e como objetivo básico liberar a sua capacidade de auto-aprendizagem, de forma que seja possível seu desenvolvimento tanto intelectual quanto emocional. (idem, p.59).

Ainda, de acordo com a abordagem humanista, vale destacar, que compete ao professor:
Ajudar o aluno a encontrar o que tem em si mesmo, sem tentar pré-formá-lo de antemão. Ajudar cada aluno a descobrir a sua própria identidade profunda. (idem, p.65).

Pois os alunos, também são sujeitos sociais, cuja característica é criar e recriar culturas, ou seja, conhecimento, como bem define Vygotsky:
... a criança é transformada pelos valores culturais do seu ambiente, ela transforma esse ambiente... portanto, o conhecimento é fruto das interações sociais que se estabelecem pela mediação dos signos culturais construídos na coletividade. (idem, p. 68).

A professora da classe B explorou esses pré-conceitos em sua prática pedagógica, e criou uma nova forma para abordar velhos temas, pois como define Gardner:
Educar é criar cenários, cenas e situações em que, entre elas e eles, pessoas, comunidades aprendentes de pessoas, símbolos sociais e significados da vida e do destino possam ser criados, recriados, negociados e transformados. Aprender é participar de vivências culturais em que, ao participar de tais eventos fundadores, cada um de nós se reinventa as si mesmo. (idem, p.76-77).

Por fim, ensinar é estar plenamente aberto a aprender e a reaprender, a rever conceitos e transformar definições em um mundo cujas mudanças estão cada vez mais rápidas e em expansão. Nesse sentido:
Passar os conhecimentos levando em conta as necessidades intelectuais, mas também as afetivas sociais e transcendentes são essenciais para o novo tempo em que estamos vivendo, em que tudo se relaciona com tudo e a informação é instantânea. (idem, p.81).


Referência Bibliográfica:


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Centro de Artes e Letras. Curso de Graduação em Letras Português e Literatura à Distância. Psicologia da Educação A. Santa Maria, 2015.

Sabedoria Sociocultural

Comentário - Para falar da teoria sociocultural é necessário citar Lev S. Vygotsky, cuja perspectiva é baseada na dimensão social do desenvolvimento humano por meio da mediação, ou seja, a mente depende constitutivamente de uma interação social para sua efetiva maturação. Logo, aprendizagem e desenvolvimento são processos distintos, porém interagem mutuamente. A aprendizagem precede o desenvolvimento intelectual, pois os diferentes ambientes sociais onde a criança está inserida promovem aprendizagens que ativarão os processos de desenvolvimento real (o que ela já conquistou) e proximal (o que ela tem potencial para conquistar). Dessa forma, a criança “é sujeito social criador e recriador de cultura” e essa vivência em sala de aula é de uma riqueza infinita, para um bom mediador. Nesse ambiente, a linguagem é responsável pelas interações sociais, uma fonte de conhecimento que vai além da escrita e mergulha, segundo Paulo Freire, na palavra vivida, fruto de uma experiência intelectual afetiva inerente à totalidade humana.

Nesse cenário, o papel do professor é claro, o de mediador, aquele que irá diagnosticar (de forma democrática e não alienada) o melhor caminho para explorar as potencialidades dos alunos, de forma que não os subestimem com conhecimentos repetidos e que não os sufoquem, ultrapassando as suas capacidades. Para essa teoria, o professor é aquele que encontra no aluno uma das suas mais importantes características: a sua sabedoria sociocultural, cujo compartilhamento é transformador.

Sobre a Teoria Cognitivista

Comentário - Uma das marcas do cognitivismo é o fator maturacional do desenvolvimento das crianças o que vai influenciar em outros pontos dessa teoria, como a concepção de interação e aprendizagem indissociáveis, a qual vai contribuir para a construção do conhecimento no decorrer da vida do indivíduo. Nessa perspectiva, Jean Piaget elaborou um esquema de desenvolvimento intelectual dividido em estágios: sensório-motor (0 a 2 anos); pré-operacional (2 a 6/7 anos); operações completas (7 a 11 anos) e operações formais (12 anos....). Esses estudos têm grande influência na educação, por exemplo, na elaboração adequada dos currículos escolares.
Piaget, como um importante teórico cognitivista, fez apontamentos cruciais ao notar que a lógica do funcionamento da criança é diferente do adulto e que cada criança constrói suas concepções. E nesse universo, a educação constitui um “todo” formado por fatores afetivos, morais, sociais e intelectuais e esses aspectos devem estar em equilíbrio, pois uma criança que sofre um constrangimento intelectual “não conseguirá ser livre moralmente”.


Outra consequência dessa teoria é a consciência da necessidade de viabilizar aos estudantes a autonomia intelectual. Nesse sentido, o estímulo à pesquisa pode ser um exemplo de aplicabilidade em sala de aula, pois o professor estará proporcionando aos alunos uma democracia para a construção do conhecimento que ocorrerá individualmente e coletivamente, por meio, principalmente, da troca de informações e experiências.

Psicologia Comportamentalista: um breve comentário

Comentário - A principal suposição da Teoria Comportamentalista é a existência de um Estímulo que provoca uma Resposta no processo de aprendizagem.  Para Pavlov o comportamento é resultante efetivo da aprendizagem ou de respostas condicionadas para determinados estímulos. As experiências de Thorndike  desencadearam alguns conceitos como comportamento aleatório; curva de aprendizagem; aprendizagem por ensaio e erro e as leis de aprendizagem. Skinner estudou o comportamento observável. Propôs que o comportamento é motivado mais por estímulos externos e é diretivo ou instintivo. O teórico postulou sua lei da aquisição, em que a força do comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de um estímulo de reforço.
O condicionamento na sala de aula é uma realidade inegável, por exemplo, o som da campainha, os medos impostos em determinadas disciplinas e/ou avaliações, o estigma de bom ou mau aluno, etc. Destaco, também, “a aprendizagem programada” formulada por Skinner, a qual se “assemelha” muito a modalidade de ensino EaD. Nesse sentido, a tomo como exemplo atual, pois além do progresso individual é notável que a aprendizagem se torne mais efetiva quando participamos ativamente das tarefas e fóruns e somos recompensados com o feedback dos professores e colegas. Por isso a importância de estimular e motivar essas participações de tal forma que cada resposta torne-se um novo estímulo e não uma punição.


Psicologia da Educação: o alicerce da aprendizagem

Comentário - Com base no texto “Psicologia – Conceituação e Visão Geral”[1], a palavra psicologia deriva do grego e significa o “estudo da mente ou da alma”. A nomenclatura só veio atestar um conceito que sempre esteve pertinente na história da humanidade, em homens primitivos ou em grandes pensadores e pesquisadores como Aristóteles, Galeno, Descartes, Locke, entre outros. Gradativamente, a psicologia como ciência ganhou o seu espaço e reconhecimento, entre tantos estudiosos que colaboraram para essa conquista, destaque para Wilhelm Wundt (1832-1926), considerado o pai da psicologia ao desenvolver a concepção do ‘paralelismo psicológico’[2].
A psicologia é uma ciência recente, positiva e atualmente é definida como “a ciência que estuda o comportamento[3] dos seres animados, seus processos mentais, e sua experiência”. Como tal, usa os princípios da precisão, objetividade, empirismo, determinismo, parcimônia e da tentativa. Nesse sentido, a psicologia é responsável pela investigação de vários assuntos, entre eles: o desenvolvimento, a aprendizagem, a percepção-atenção-retenção, a consciência, o pensamento e a linguagem, a motivação, a emoção, a inteligência e a criatividade, as influências sociais e o comportamento social (Alvers, p. 3 - 5).
A psicologia se divide em três campos de estudo: Geral, Especial e Aplicada. A primeira é encarregada dos conceitos básicos que abrange todo o ser vivo. A psicologia especial está relaciona ao campo de pesquisas e conceitos. Já a psicologia aplicada, como o próprio nome sugere, é transformada em atividades práticas em constante desenvolvimento e crescimento (idem, p.6)
Um dos grandes diferenciais da psicologia é a sua interlocução nas diversas áreas do conhecimento, tanto que seu estudo está no currículo da maioria das graduações e especializações, entre elas a Pedagogia (integrante da Psicologia Aplicada), fazendo parte das Ciências da Educação, cuja finalidade é estudar os processos educativos.
A psicologia da educação “é uma disciplina que se baseia nos fundamentos da formação pedagógica, busca compreender e explicar o que se passa na situação de educação”, além de se caracterizar “como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico”, (p.6-7). Tudo isso, levando em conta o seu principal objetivo - o processo de ensinar e aprender, nesse sentido, a sua aplicação na prática pedagógica ganha uma importância insubstituível para a educação e para a psicologia.
Vale destacar, que a Psicologia da Educação se faz a partir de alguns conhecimentos teóricos práticos construtivos e indispensáveis à prática do professor, relacionados às práticas educacionais no âmbito escolar e social e a Psicologia e a Pedagogia Clínica Infantil (idem, p.7-8).




[1] ALVERS, Leonice. Psicologia – Conceituação e Visão Geral. Texto Complementar, disponibilizado no material de estudos da disciplina de Psicologia da Educação A. Curso de Letras: Literatura e Português (UAB e UFSM), 2015.
[2] Segundo a qual os fenômenos mentais correspondem fenômenos científicos.
[3] O comportamento humano é considerado o objeto da psicologia.