terça-feira, 1 de maio de 2018

Estratégias de leitura top-down e bottom-up


De forma simplificada no top-down (de cima para baixo) as atividades são centradas do conteúdo em si e no bottom-up (de baixo para cima) as atividades são centradas nas formas gramaticais do texto.
Segundo Paiva (2005, p. 130), esses processos são de suma importância, pois a leitura é um processo de construção de significados. Assim sendo, a atividade de leitura vai além de uma simples transmissão de informação, porque cada leitor, estudante ... é único, o que infere em construções de significados diferentes, baseados nos conhecimentos e experiências desses indivíduos. Nesse sentido, a atividade de leitura “envolve a habilidade de processar as informações registradas no papel (bottom-up) e o conhecimento de mundo que o leitor aciona para compreender um texto (top-down)”, (PAIVA, 2005, p. 130).
Por exemplo, na leitura de um texto sobre as Olímpiadas 2016, @ professor(a) pode levar para sala de aula várias fotos de modalidades esportivas e perguntar aos estudantes quais dessas modalidades eles conhecem ou já praticaram, quais delas faziam parte das olimpíadas no Rio de Janeiro, e/ou quais delas o Brasil conquistou uma medalha olímpica. Essa estratégia, baseada no processo top-down, explora o pré- conhecimento d@ alun@ e as suas opiniões.
Contextualizado o tema, o professor poderá iniciar a leitura do texto e trabalhar vários pontos, como a interpretação e a gramática. Ao relacionar elementos gramaticais no texto (morfologia, sintaxe, semântica, etc.), o professor incorporará o processo bottom-up.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PAIVA, Vera Lúcia Menezes Oliveira. Desenvolvendo a habilidade de leitura In: PAIVA, V.L.M.O. (Org.). Práticas de ensino e aprendizagem de inglês com foco na autonomia. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2005. p. 129-147. Disponível em: http://www.veramenezes.com/leitura2.htm. Acesso em 27 de abril de 2017.

Input, output e intake


De forma simplificada input é tudo aquilo que recebemos, lemos e escutamos (insumo linguístico); output é o que produzimos, falamos e escrevemos, e intake é insumo linguístico absorvido.
Para recortar o assunto, selecionei trechos de pesquisas científicas relacionadas com o tema que achei pertinente para esta discussão:
Segundo Motta (2009, p.25- 26), os conceitos de input, output e intake têm sido bastante explorados em pesquisas envolvendo aquisição de linguagem. “Corder (1967) investigou o papel que o input desempenhava na aquisição da linguagem. Esse autor propôs a diferença entre input, que seriam os dados a serem processados pelo cérebro e intake, que diz respeito aos dados já processados, isto é, o input compreensível”.  Ainda de acordo com a autora, “o output, que envolve os dados produzidos pelo sujeito, também desempenha papel relevante na aquisição, pois favorece a reflexão sobre o próprio input”.
Porém, para “tornar possível a inter-relação entre input, intake e output... é necessário considerar a mediação vygotskyana do professor com apoio no feedback[1], que é capaz de interferir tanto no aprimoramento do conteúdo como na forma de um texto”, concluiu Motta (2009, p. 26).

ESQUEMA E EXEMPLOS
A doutora em língua alemã Kelly Stanich (USP) e a professora-doutora do Departamento de Letras Modernas, Selma Meireles (USP) apresentaram uma representação gráfica de um modelo para o processamento cognitivo relacionado à produção em Língua Estrangeira (LE). Os exemplos referem-se a aprendizes adultos de alemão como LE, sem contato anterior com o idioma fora do ambiente de ensino formal.

Segundo as autoras, parte superior do modelo, nomeada “domínio declarativo”, representa a memória declarativa, os dados do input que potencialmente seriam processados nesse domínio (regras explícitas e instruções sobre a língua) e os dados do output, retomados e reconstruídos após o processamento na memória operacional. Os dados do output, tal como no input, se apresentam na forma de regras explícitas e conhecimento teórico sobre a língua. A parte inferior do modelo, denominada “domínio não-declarativo”, representa a memória não-declarativa, os dados linguísticos do input potencialmente processáveis como unidades significativas (ou chunks) e os dados linguísticos do output. Para efeito de simplificação, nos campos input, intake e output, o modelo mostra apenas dados linguísticos e dados sobre a língua, respectivamente nos domínios não-declarativo e declarativo. No entanto, considera-se também a presença de diversos fatores extralinguísticos (elementos culturais, experiências individuais, fatores sociais etc.), apesar de não representados no modelo. Saiba mais e acesse os exemplos clicando no link a seguir: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-88372009000100010


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MOTTA, Vaima Regina Alves. Noticing e consciousness-raising na aquisição da escrita em língua materna. Tese de doutorado. UFSM: Santa Maria, 2009.

STANICH, Kelly; MEIRELES, Selma. Processamento cognitivo relacionado à produção em língua estrangeira e aprendizagem de falantes não-nativos de alemão. São Paulo: USP, 2009.


[1] Conforme pesquisa teórica, Motta afirma que o “feedback indireto é uma forma de interferência, na qual o professor indica um caminho, sem promover a correção direta da falha cometida pelo aluno, e o feedback direto acontece através de uma indicação direta do erro”, (2009, p. 26).

Aquisição instrucional – conceitos, vantagens, limitações, autores


A aquisição instrucional envolve três teorias, paradigmas, que correspondem a maneiras diferentes de explicar o conhecimento humano: no behaviorismo (de Pavlov, Watson, Thorndike, Skinner), a experiência é a fonte básica de conhecimento, trabalha com fatos objetivos (estímulos e reações); no inatismo (de Platão, Descartes e Kant), a mente detém o papel mais importante na aquisição do conhecimento, nesse sentido, as práticas pedagógicas inferem as capacidades básicas do ser humano; e no interacionismo (de Piaget, Vygotsky, Wallon), a aquisição da linguagem envolve tanto a mente quanto a experiência.
O behaviorismo defende que a língua é adquirida “de fora para dentro”, por meio de imitação e formação de hábitos através do reforço positivo sobre o binômio estímulo-resposta. O ambiente tem grande responsabilidade no processo da aquisição e amadurecimento da linguagem.  A principal suposição dessa teoria é a existência de um Estímulo que provoca uma Resposta no processo de aprendizagem.  Para Pavlov o comportamento é resultante efetivo da aprendizagem ou de respostas condicionadas para determinados estímulos. As experiências de Thorndike desencadearam alguns conceitos como comportamento aleatório; curva de aprendizagem; aprendizagem por ensaio e erro e as leis de aprendizagem. Skinner estudou o comportamento observável. Propôs que o comportamento é motivado mais por estímulos externos e é diretivo ou instintivo. O teórico postulou sua lei da aquisição, em que a força do comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de um estímulo de reforço.
Esta teoria é limitada, tem pontos positivos como a aprendizagem de certos itens da língua por meio da memorização ou o aprimoramento das regras da gramática, e pontos negativos, como a forma mecanizada e artificial que a língua é tratada; a falta de reflexão geradora de novas ideias e soluções. Em suma, ela descarta a análise de aspectos  da conduta humana como sentimentos, sonhos, raciocínio, etc. e valoriza a “mecanização” do processo de aprendizagem.
A teoria inatista defende que os seres humanos nascem programados biologicamente para falar. Entre os argumentos positivos, a naturalidade da criança em aprender a língua materna, mesmo em ambientes mais rudes e munidos de um sistema de símbolos complexos. No entanto, também tem suas limitações, pois a língua não é adquirida apenas ouvindo ou de forma espontânea, ela requer certa cooperação dos falantes mais velhos, por meio de uma conversação adequada em uma espécie de sistema de troca. A falta de contextualização é outra desvantagem, pois os aprendizes não são todos iguais.
O interacionismo defende que a aquisição da linguagem resulta da interação entre o programa mental inato do aprendiz e a linguagem produzida conjuntamente em cooperação com um interlocutor adequado. Em outras palavras, o organismo e o meio exercem ações recíprocas.
Nessa teoria, as crianças adquirem a linguagem assimilando as estruturas sintáticas, as estruturas semânticas e pragmáticas. No interacionismo, a linguagem é um meio para a atividade intersubjetiva significativa, e não um fim em si mesmo; a forma e o sentido são trabalhados e exercitados juntos, visando o desenvolvimento de competências e habilidades dentro de um processo de aprendizagem permanente.
Piaget fez apontamentos cruciais ao notar que a lógica do funcionamento da criança é diferente do adulto e que cada criança constrói suas concepções. E nesse universo, a educação constitui um “todo” formado por fatores afetivos, morais, sociais e intelectuais e esses aspectos devem estar em equilíbrio, pois uma criança que sofre um constrangimento intelectual “não conseguirá ser livre moralmente”.
Outra consequência dessa teoria é a consciência da necessidade de viabilizar aos estudantes a autonomia intelectual. Nesse sentido, o estímulo à pesquisa pode ser um exemplo de aplicabilidade em sala de aula, pois o professor estará proporcionando aos alunos uma democracia para a construção do conhecimento que ocorrerá individualmente e coletivamente, por meio, principalmente, da troca de informações e experiências.
Para Vygotski, a criança “é sujeito social criador e recriador de cultura” e essa vivência em sala de aula é de uma riqueza infinita, para um bom mediador (professor). Nesse ambiente, a linguagem é responsável pelas interações sociais, uma fonte de conhecimento que vai além da escrita e mergulha, segundo Paulo Freire, na palavra vivida, fruto de uma experiência intelectual afetiva inerente à totalidade humana.
Nesse cenário, o papel do professor é aquele que irá diagnosticar (de forma democrática e não alienada) o melhor caminho para explorar as potencialidades dos alunos, de forma que não os subestimem com conhecimentos repetidos e que não os sufoquem, ultrapassando as suas capacidades.


Fontes (UFSM):
Material da disciplina Produção e análise de material didático (RICHTER, Marcos).
Material da disciplina de Psicologia da Educação.
Edição e produção: Ires Milena Koster.